quinta-feira, 8 de julho de 2010

América Latina

Aos Latino-americanos.

O que fizeram teus deuses?

Enganaram-te?

América, raízes cortadas em espadas de pólvora

Ha! Verdes florestas plantadas de soja e mugidos de bois

Rios de mercúrio, areias, desertos de sal...

Na tua carne brota os sepulcros de milenares indígenas

O grito de Sepé, a arte revolucionária de Sandino, Martí, Mariguela, Juana Azurduy...

Tuas centenas de línguas assassinadas

A cerração cerrada em tuas montanhas de prata arrancadas pelas mãos do filho forçado em miragem de fome

Teus oceanos abertos à sina da bandeira encaveirada

Coberto teu solo por milhões de fantasmas

Teus domínios roubados pelos deuses do teu sonho antecederam tua revolta

Onde estarão teus filhos senão mostrando a face ao verdugo?

Às misérias nascidas do asco europeu e ianque

Teus sambaquis não se renovam...

Tua imagem se revela solitária ao espelho Titicaca

Teus quilombolas sobem morros, e cercados de fúria e medo se sustentam com fuzis apontados para o Mar da Guanabara

Teus camponeses lavram sanhas de fome em sesmarias tomadas por enclaves e solidões de pampa

Levaram teu guano, o salitre, teu cobre, profanaram teu corpo, teu túmulo...

Escravizaram teus filhos

Os nomes da África moldaram nos ferros!

Trouxeram seus corpos e banzos os deixaram ao chicote da loucura

Sonha tua liberdade América!

Nas Chiapas a terra orvalhada em mais um dia!


Dançam com o corpo pintado no Araguaia, no Amazonas quimeram fogueiras, no Putumaio acolhem o doce.

Voa nos olhos do puma ligeiro o aviso, em venenos de flechas o abraço da guerra acolhe invasores

Teus tambores ecoam

A cor antiga da tua liberdade voa nas asas do condor

A marca de uma mão ensanguentada veio a ti oferecendo a morte vestida de batinas e canhões.

Cordilheiras de neve debruçam tua face em teu seio de águas rubras de sangue, negras de mangue, amarelas de ouro, cristalinas de pureza e prata.

Açoites em tua pele coroada de selvas

Andes, Antilhas, Galápagos...

Trópico e geleiras coabitando desertos, caatingas, campos, pedras que se elevam ao cume do Aconcágua

O grito da fauna, o marulhar das águas, as vozes das ruas cheias de sol das tuas metrópoles

O sonho roubado da tua pele carcomida em lamentos

Os meteoros de máquinas a roer o teu seio

Terra do Fogo!

Cavernas de antigos caçadores patagônios, paraíso de gelo e pedras

Árvore que cai aos meus olhos...

Caríssima América!

Te tenho pura em meus braços de amor.

- Odilon Machado de Lourenço,

querido poeta da garrafa

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